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quinta-feira, 1 de março de 2012

Mais lenha na guerra cambial


O Banco Central Europeu (BCE) levou a cabo com grande sucesso, nesta quarta-feira, a segunda operação de oferta de recursos de três anos, a juros de 1%, ao sistema financeiro europeu, dentro do programa de refinanciamento de longo prazo (LTRO, na sigla em inglês). Oitocentos bancos tomaram um montante de 500 bilhões de euros, volume um pouco acima do previsto. Em três meses, o BCE injetou na praça 1 trilhão de euros. Desde 2008, foram mais de 3 trilhões.
Também nesta quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um estudo de técnicos do seu departamento de pesquisas, sugerindo que, em certas circunstâncias, dentro de limites e por período não prolongado, já existem evidências de que intervenções no mercado cambial, nos países emergentes, podem trazer mais benefícios do que problemas tanto para a credibilidade dos bancos centrais quanto para seus esforços de cumprir as metas de inflação.
Foi, claro, simples coincidência o fato de a operação do BCE e o estudo do FMI terem aparecido quase no mesmo momento. Mas se não tivesse sido só coincidência, faria todo o sentido. A ação do BCE visa reanimar o crédito (no sentido estrito e no sentido figurado) na Europa, pela via do baixo custo, e promover uma troca de dívidas soberanas, nos países encalacrados da zona do euro, a preços menores. Mas, tanto quanto as operações de afrouxamento monetário, promovidas pelo Federal Reserve e pelo Banco do Japão, a injeção de liquidez pelo BCE amplia a liquidez financeira internacional.
Para as economias emergentes, menos afetadas pela crise e mais atraentes para investidores, o ingresso de enxurradas de dinheiro, com origem nas ações de injeção de liquidez, se traduz em pressões adicionais na direção da valorização das moedas locais. Se, por um tempo, isso ajuda no combate à inflação, também colabora para desarrumar a economia doméstica, e abrir avenidas para os importados (leia-se empregos nos mercados externos).
O estudo divulgado pelo FMI é uma reação a esse movimento de transferência de recursos, que provoca valorização cambial nos países receptores do dinheiro liberado pelos bancos centrais das economias maduras em crise. O estudo expressa um nível acima nas preocupações – e nas convicções – da instituição, em relação aos impactos deletérios do crescente ingresso de recursos nas economias emergentes. Há um ano, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, publicou um artigo, ressaltando que escrevia em caráter pessoal, em que lançava o debate sobre a validade da atuação dos bancos centrais na defesa das taxas de câmbio afetadas pela farta liquidez internacional. O estudo agora publicado, à luz de experiências vividas, recomenda a aplicação de medidas para evitar valorizações cambiais excessivas entre os emergentes.
A economia brasileira é uma das vítimas de processo, mas o governo, até aqui, tem reagido com algumas providências de caráter tributário, impondo alíquotas majoradas de IOF na entrada de capitais externos, e alta estridência no discurso político.
Mas as pressões continuam e é possível esperar uma escalada de intervenções defensivas. Nos últimos dias, Fazenda e Banco Central anunciaram dispor de “arsenais” para enfrentar a valorização do real. Não revelaram, porém, as armas de que poderão dispor para evitar valorizações excessivas do câmbio.

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